Difference between revisions of "Interpretação quântica de três polarizadores"

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A experiência dos três polarizadores pode ser realizada no [[Polarização da Luz | elab]] ou artesanalmente com o recurso a uma experiência artesanal de uma [[Polarizadores em cascata| cascata em série de polarizadores]], usando uma fonte de luz intensa e um kit experimental.
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[[File:Data Analise Polaroid.png|240|thumb| Se realizarmos a experiência rodando pelo menos 90º, fica claro pelos resultados obtidos que podemos esperar uma probabilidade de um fótão passar por um polarizador proporcional a uma função sinusoidal, já que no estado ortogonal ao polarizador nenhum fotão pode passar. Pelo contrário, em um estado alinhado, a probabilidade de passagem é de 100%.]]
  
Vamos descrever o estado de polarização da luz como um vetor bidimensional, como ilustrado na figura. A luz polarizada verticalmente corresponde a um vetor apontando para cima (0, 1), horizontalmente corresponde a (1,0). Usamos a notação de Dirac para representar estes vectores, |V> e |H> respetivamente. Um vetor arbitrário é escrito como \(|α〉=cosα |V〉+sinα |H〉 \).
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Se realizarmos a experiência da [[Polarização_da_Luz|Polarização]] fazendo um varrimento de 180°, observaremos que a probabilidade de passagem/transmissão dos  fotões é proporcional a uma função sinusoidal, como um <math>sin^2(\theta)</math>. O seno precisa ser elevado ao quadrado, pois nenhuma probabilidade pode ser negativa. Note-se que <math>sin^2(\theta)</math> ainda é uma função sinusoidal.
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Descrevendo o estado de polarização do fotão como um vetor bidimensional, conforme ilustrado na figura, em que a luz polarizada verticalmente corresponde a um vetor apontando para cima (0, 1), enquanto a luz polarizada horizontalmente, orthogonal ao polarizador, corresponde a (1, 0). Usamos a notação de Dirac para representar esses vetores, ''|V>'' e ''|H>'', respectivamente. Um vetor arbitrário pode ser escrito então como \(|α〉=cos⁡(α) |V〉+ sin(⁡α) |H〉 \).
  
 
A mecânica quântica explica como calcular:  
 
A mecânica quântica explica como calcular:  
1) a probabilidade de transmissão desses estados através de um polarizador,
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1. a probabilidade de transmissão desses estados através de um polarizador;
2) o estado à saída do polarizador. Quando o estado \(|V>\) passa pelo segundo polarizador, orientado a 45°, temos que:
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2. o estado na saída do polarizador. Quando o estado \(|V>\) passa pelo segundo polarizador, orientado, por exemplo, a 45°, temos que a probabilidade de transmissão é dada por:
A probabilidade de transmissão é dada por
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Prob=|〈V|P_{(45°)} |V〉|^2=1/2
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[[File:Light Polarization Diagram.png|240|thumb| Interpretação clássica da polarização da luz. Esta interpretação só é possível para um número imenso de  fotões; para um único ou poucos fotões, precisamos assumir um estado quantizado associado a cada fotão.]]
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[[File:Multi Polaroid.png|240|thumb| No caso de vários polarizadores com um pequeno ângulo incremental até ao final em 90º, pode-se mostrar que a probabilidade de o fotão passar pela cascata de polarizadores torna-se progressivamente maior, chegando a 100% para um número infinito de polarizadores!]]
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<!-- [[File:Experimental SetUp Polaroid.png|240|thumb| Configuração do experimento paradoxo dos três polarizadores.]]-->
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Assim, o comportamento do  fotão através de um polarizador pode ser interpretado como:
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1. **Estado Inicial de Polarização:** Um  fotão que se aproxima de um polarizador tem um estado de polarização específico, que pode ser representado como uma superposição dos dois estados base definidos pelo eixo do polarizador: (i) alinhado paralelamente  este ou no estado vertical e (ii) ortogonal ou no estado horizontal.
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2. **Interação com o Polarizador:** Ao encontrar o polarizador, o estado de polarização do  fotão é "medido" em relação ao eixo do polarizador. Esse processo projeta a polarização do  fotão em um dos dois eixos ortogonais entre si: (i) Paralelo ao eixo do polarizador (transmitido) ou (ii) Perpendicular ao eixo do polarizador (absorvido ou bloqueado). A probabilidade de transmissão do  fotão é dada por \(P_{transmit}=cos^{⁡2}(\theta)\), onde <i>θ</i> é o "ângulo" que fornece a probabilidade entre os dois estados, o que, na teoria clássica, se resume ao ângulo com o eixo do polarizador.
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3. **Estado Pós-Polarizador:** Se o  fotão passa, de acordo com a dada probabilidade, o seu estado de polarização agora está definitivamente alinhado com o eixo do polarizador pelo qual acabou de passar (ele não mantém mais o seu estado de polarização original, sendo esta uma distinção fundamental para a teoria clássica).
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Agora, se tivermos uma cadeia de polarizadores, ou seja, se vários polarizadores forem colocados em sequência, com cada polarizador sucessivo girado por um pequeno ângulo <i>Δθ</i>, a probabilidade total de um  fotão passar por todos os <i>N</i> polarizadores é:
  
 
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〖Prob=|〈V|P_(45°) |V〉|〗^2=1/2
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P_{total}=\prod_{i=1}^{N−1} cos^{⁡2}(Δθ)
 
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onde \(Δθ=\frac{90º}{(N−1)}\)
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Isso simplifica para:
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P_{total}=(cos^{⁡2}(Δθ))^{N−1}
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Exemplo:
  
[[File:Light Polarization Diagram.png|240|thumb| Expected drift in frequency when plasma is generated inside the chamber.]]
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Suponha que sejam usados ''N=10'' polarizadores para ir de ''θ=0º'' a ''θ=90º''. Então, \( Δθ=90º/9=10º\).
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*''Probabilidade de passagem em cada etapa:'' \( P_i=cos⁡^{2}(10º)≈0,97 \).
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*''Probabilidade total:'' \(P_{total}​=(0.9698)^9≈0.75\)
  
[[File:Data Analise Polaroid.png|240|thumb| Expected drift in frequency when plasma is generated inside the chamber.]]
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Este resultado mostra que uma rotação gradual por sucessivos polarizadores aumenta a probabilidade de transmissão em comparação ao uso de apenas dois polarizadores orientados a ''0º'' e ''90º'', onde nenhum  fotão passaria nesta situação, já que \(cos^{⁡2}(90º)=0\).
  
[[File:Multi Polaroid.png|240|thumb| Expected drift in frequency when plasma is generated inside the chamber.]]
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**Pontos-chave para clarificação:**
  
[[File:Experimental SetUp Polaroid.png|240|thumb| Expected drift in frequency when plasma is generated inside the chamber.]]
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* O  fotão não ''mantém'' seu estado de polarização original se atravessar o polarizador; em vez disso, adquire um novo estado alinhado com o eixo do polarizador.
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* O resultado é probabilístico: um  fotão pode ou não passar por um polarizador, baseado na projeção de seu estado inicial de polarização no eixo desse polarizador.
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* Esse fenômeno realça os princípios da mecânica quântica de colapso de estado e medição, distintos da explicação clássica por ondas eletromagnéticas.

Revision as of 10:45, 5 January 2025

Se realizarmos a experiência rodando pelo menos 90º, fica claro pelos resultados obtidos que podemos esperar uma probabilidade de um fótão passar por um polarizador proporcional a uma função sinusoidal, já que no estado ortogonal ao polarizador nenhum fotão pode passar. Pelo contrário, em um estado alinhado, a probabilidade de passagem é de 100%.

Se realizarmos a experiência da Polarização fazendo um varrimento de 180°, observaremos que a probabilidade de passagem/transmissão dos fotões é proporcional a uma função sinusoidal, como um [math]sin^2(\theta)[/math]. O seno precisa ser elevado ao quadrado, pois nenhuma probabilidade pode ser negativa. Note-se que [math]sin^2(\theta)[/math] ainda é uma função sinusoidal.

Descrevendo o estado de polarização do fotão como um vetor bidimensional, conforme ilustrado na figura, em que a luz polarizada verticalmente corresponde a um vetor apontando para cima (0, 1), enquanto a luz polarizada horizontalmente, orthogonal ao polarizador, corresponde a (1, 0). Usamos a notação de Dirac para representar esses vetores, |V> e |H>, respectivamente. Um vetor arbitrário pode ser escrito então como \(|α〉=cos⁡(α) |V〉+ sin(⁡α) |H〉 \).

A mecânica quântica explica como calcular: 1. a probabilidade de transmissão desses estados através de um polarizador; 2. o estado na saída do polarizador. Quando o estado \(|V>\) passa pelo segundo polarizador, orientado, por exemplo, a 45°, temos que a probabilidade de transmissão é dada por:

[math] Prob=|〈V|P_{(45°)} |V〉|^2=1/2 [/math]

Interpretação clássica da polarização da luz. Esta interpretação só é possível para um número imenso de fotões; para um único ou poucos fotões, precisamos assumir um estado quantizado associado a cada fotão.
No caso de vários polarizadores com um pequeno ângulo incremental até ao final em 90º, pode-se mostrar que a probabilidade de o fotão passar pela cascata de polarizadores torna-se progressivamente maior, chegando a 100% para um número infinito de polarizadores!

Assim, o comportamento do fotão através de um polarizador pode ser interpretado como:

1. **Estado Inicial de Polarização:** Um fotão que se aproxima de um polarizador tem um estado de polarização específico, que pode ser representado como uma superposição dos dois estados base definidos pelo eixo do polarizador: (i) alinhado paralelamente este ou no estado vertical e (ii) ortogonal ou no estado horizontal. 2. **Interação com o Polarizador:** Ao encontrar o polarizador, o estado de polarização do fotão é "medido" em relação ao eixo do polarizador. Esse processo projeta a polarização do fotão em um dos dois eixos ortogonais entre si: (i) Paralelo ao eixo do polarizador (transmitido) ou (ii) Perpendicular ao eixo do polarizador (absorvido ou bloqueado). A probabilidade de transmissão do fotão é dada por \(P_{transmit}=cos^{⁡2}(\theta)\), onde θ é o "ângulo" que fornece a probabilidade entre os dois estados, o que, na teoria clássica, se resume ao ângulo com o eixo do polarizador. 3. **Estado Pós-Polarizador:** Se o fotão passa, de acordo com a dada probabilidade, o seu estado de polarização agora está definitivamente alinhado com o eixo do polarizador pelo qual acabou de passar (ele não mantém mais o seu estado de polarização original, sendo esta uma distinção fundamental para a teoria clássica).

Agora, se tivermos uma cadeia de polarizadores, ou seja, se vários polarizadores forem colocados em sequência, com cada polarizador sucessivo girado por um pequeno ângulo Δθ, a probabilidade total de um fotão passar por todos os N polarizadores é:

[math] P_{total}=\prod_{i=1}^{N−1} cos^{⁡2}(Δθ) [/math]

onde \(Δθ=\frac{90º}{(N−1)}\)

Isso simplifica para:

[math] P_{total}=(cos^{⁡2}(Δθ))^{N−1} [/math]

Exemplo:

Suponha que sejam usados N=10 polarizadores para ir de θ=0º a θ=90º. Então, \( Δθ=90º/9=10º\).

  • Probabilidade de passagem em cada etapa: \( P_i=cos⁡^{2}(10º)≈0,97 \).
  • Probabilidade total: \(P_{total}​=(0.9698)^9≈0.75\)

Este resultado mostra que uma rotação gradual por sucessivos polarizadores aumenta a probabilidade de transmissão em comparação ao uso de apenas dois polarizadores orientados a e 90º, onde nenhum fotão passaria nesta situação, já que \(cos^{⁡2}(90º)=0\).

    • Pontos-chave para clarificação:**
  • O fotão não mantém seu estado de polarização original se atravessar o polarizador; em vez disso, adquire um novo estado alinhado com o eixo do polarizador.
  • O resultado é probabilístico: um fotão pode ou não passar por um polarizador, baseado na projeção de seu estado inicial de polarização no eixo desse polarizador.
  • Esse fenômeno realça os princípios da mecânica quântica de colapso de estado e medição, distintos da explicação clássica por ondas eletromagnéticas.